No meu tempo não era assim! – Uma visão poética e acadêmica do processo histórico da Educação Infantil. Confira os relatos e análises da primeira infância, de acordo com os especialistas da Escola de Pais do SAE Digital.
Relatos da primeira infância
❤ Como assim? Ei, você estudou no “Jardim de Infância”? Somos três pessoas trazendo, cada uma em sua memória, fatos e vivências de suas histórias de vida.
Eu sou a mais vivida em termos de idade; mas creiam, estudei em uma escola o que hoje é considerado educação infantil. Entrei com 4 anos no Jardim, assim fui caminhando nessa jornada. Com 5 anos estava no que hoje algumas escolas chamam de Jardim II, mas em minha escola denominava-se Pré-Verde.
Depois do meu último ano no Jardim de Infância, fui para o Pré-Rosa. Era um espaço mágico de descobertas da escrita, da leitura, e eu já contava com 6 anos de idade. Sim, a educação infantil seguia até os 6 anos de idade, para depois ingressar no antigo primário, hoje Ensino Fundamental Anos Iniciais.
Naquele tempo as aulas de canções infantis, com a Tia Alair e seu acordeão, nos embalavam no ritmo, e o desafio de descobrir ritmos diversos nos fazia movimentar o corpo. Logicamente, eu e meus amiguinhos queríamos produzir sons e, com base nisso, a escola sabiamente criou as bandinhas, composta de coquinhos, reco-reco, triângulos, tambores, entre outros instrumentos de percussão.
Lembro-me que brincávamos muito e éramos desafiados e pular alto, baixo, saltar e brincar no balanço e na gangorra.
Tínhamos que nos superar a cada momento, com leituras desafiadoras, para chegarmos ao final do ano e ganharmos a bota mágica. Bota de cor vermelha, com punho peludinho branco, recheada de bombons, vestidos com beca e chapéu de formatura (capelo), com toda a pompa de quem estava se graduando na introdução do mundo das letras para dar continuidade aos estudos.
Sei que esta não era a realidade da grande maioria das crianças daquela época, infelizmente.
Ah… saudade boa de um tempo que não volta! Eu sou filha de bancário e dona de casa, e fui agraciada em poder cursar a pré-escola!
Fui estudar no Jardim de Infância da Divina Providência, escola confessional, a diretora era uma irmã muito brava, mas a Tia Arlete era muito querida. Se fecho meus olhos lembro dos cheiros da sala de aula, cheiro de massinha, de cola branca… e do gosto da Coca-Cola que às vezes minha mãe colocava na minha lancheira. Sim, porque refrigerante era só no domingo e, caso sobrasse, ela colocava na minha garrafinha de plástico que fazia parzinho com a lancheira.
Tínhamos aulas de Música, Teatro, Pintura e sempre era uma farra! Quando a madre superiora entrava na sala todos se calavam e ficavam de pé em sinal de respeito… Eu tinha 5 anos, completei meus 6 anos cursando a pré-escola, depois fui para o primário cursar o 1º ano, fase escolar de ser alfabetizada.
Nem sempre podíamos levar brinquedos, mas quando era autorizado eu levava a minha Suzi para brincar na casinha de bonecas com minhas coleguinhas.
Tenho muitas lembranças boas, mas às vezes percebo que algumas coisas não foram tão bem trabalhadas comigo naquela época, como esquerda e direita.
Ah! Ah! Ah! Ah! Até hoje me confundo… coisas daquela época que hoje em dia buscamos fazer diferente para que na fase adulta isso não aconteça mais… Saudades de um tempo que não volta; de mais alegria em espiar as novidades da atualidade e curiosidade do que está por vir…Ah, minha educação infantil, meus primeiros passos? Como foi?
Dentre as dificuldades, analiso que provavelmente tive alguma defasagem em meu processo de aprendizado, mas ao mesmo tempo sobraram estímulos de desenvolvimento cognitivo. Tais estímulos foram muito importantes para que hoje eu tenha facilidade em aprender coisas novas.
A vida é uma grande descoberta e, ao olhar para trás, eu sequer poderia imaginar que aquela criança que chorou bastante porque não conseguiu escrever palavras com SS, em um dos primeiros ditados que fez na vida, iria se comunicar com diversas culturas e em línguas diferentes.
Por ter sido estimulado em casa – já que mamãe é professora – quando fui para a escola eu já sabia muitas coisas e, assim, fiz provinhas que me possibilitaram pular etapas. De repente, entre todos os pequenos da turma, eu era o menorzinho, não só na idade, mas também no tamanho. Suei horrores, mas depois percebi que estava no lugar certo. ❤
E o que aprendemos com esses relatos da primeira infância?
Aprendemos que o desenvolvimento e estímulo nesta etapa da vida – Educação Infantil – é muito importante, pois toda a vida adulta se embasa nos primeiros passos, ainda na primeira infância. Os aspectos sociais, cognitivos, afetivos e motores devem ser estimulados para que, quando adulto, cada criança possa se desenvolver plenamente e viver de forma exitosa.
Considerando os relatos anteriores, podemos verificar três abordagens diferentes, nas quais os narradores mostraram vivências distintas e sinalizaram, em alguns casos, que o desenvolvimento integral do ser na primeira infância não foi feito. Vamos ver quais são elas?
1- Aulas-passeio | Célestin Freinet (1896-1966)
De acordo com Freinet, as aulas-passeio proporcionam o sentir com todo o nosso ser, não só objetivamente, mas com toda nossa sensibilidade natural. As aulas-passeio são experiências humanizadoras, que ressignificam a posição do professor em formação inicial, transformando sua visão de ser e de estar no mundo.
Estar junto com as crianças em sua maneira de descobrir o mundo, realizando, vivenciando, brincando, explorando e exercitando o autoconhecimento, revelou ao mundo a pedagogia do bom-senso e do trabalho, da criação e elaboração como práticas. Desta forma, é desejável que as famílias tomem conhecimento e se apropriem da importância do desenvolvimento integral das crianças, desde a primeira infância.
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2- Interações Sociais | Lev Vygotsky (1896-1934)
Vygotsky, contemporâneo de Freinet, também apresentou estudos sobre a psicologia social, das interações sociais e culturais como eixos para o aprendizado. O autor parte da compreensão de que o ser humano se constitui e se forma como tal pelo contato no tecido social, nas interações com o outro. Nesse sentido, ressalta-se a importância das relações familiares, conforme ilustraram os depoimentos, e o acolhimento às crianças.
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3- Desenvolvimento humano na infância | Jean Piaget (1896-1980)
Nessa mesma época, outro estudioso se destacou, Jean Piaget, também se dedicou ao estudo do desenvolvimento humano na infância e trouxe com muito entusiasmo para a Educação diversas formas de estimular a aprendizagem da criança. Piaget explicita que a infância é a época de maior criatividade na vida de um ser humano, e produziu um estudo sobre os 4 estágios do desenvolvimento da criança pequena, da criança e do jovem, sobre como interagem com a vida e desenvolvem o raciocínio por meio das vivências.
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E qual é a nossa conclusão?
De acordo com o que foi visto, é possível observar e analisar que a criança tem sua própria maneira de aprender e interagir com o mundo, de se sentir inserida em dado contexto, e que necessita de simulacros da vida social para experienciar, rever, refazer e transformar.
Nas palavras de Florence Bauer, representante da Unicef no Brasil, também pode-se ressaltar que a primeira infância, etapa que se inicia no pré-natal e se prolonga até o sexto ano de vida, é um período crucial para o crescimento e desenvolvimento do ser humano.
O atual momento que vivemos, a pandemia, tornou ainda mais clara a importância da parceria entre responsáveis, escola e alunos, visto que todos esses atores buscam exclusivamente o pleno desenvolvimento da criança e sua inserção na sociedade.
Portanto, entendemos com maior clareza o quanto são necessários o brincar, o experimentar e o descobrir na infância, sendo o professor aquele que vai incentivar a criança a alcançar o aprendizado, e a família como o suporte potencializador desse processo contínuo. 🏀
Neste momento de pandemia, a relação de parceria entre educadores, responsáveis e alunos é ainda mais importante para o pleno desenvolvimento da criança e a sua inserção na sociedade.
O processo de aprendizagem e vivência da criança se dá, nesta fase, no brincar. Pais, mães e responsáveis: quais são as suas melhores memórias de infância?
Veja nesse vídeo alguns depoimentos da equipe do SAE Digital.
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