Escutar, ver e observar as crianças pode parecer simples… Muitos pais acreditam que estão o fazendo enquanto convivem em casa, e os professores acreditam que dar aulas e ajudar nas atividades suprem essas necessidades. Mas será mesmo?
As crianças têm uma forma particular de se expressar, e muitos adultos não conseguem interpretar o que elas estão tentando dizer com suas ações, muitas vezes entendidas como mau comportamento. Elas também se expressam através do brincar, o que representa uma linguagem própria e permite sua interação com o mundo. Sendo assim, os adultos precisam compreender esse modo de “falar”.
Além disso, nos dias atuais, as crianças têm brincado menos e preferido ficar conectadas à internet nos seus computadores e celulares, o que pode comprometer seu principal modo de expressão, dificultando ainda mais para os adultos escutá-las, vê-las e observá-las.
Os adultos e as crianças estão em um estado diferente do desenvolvimento e veem o mundo de formas muito distintas, o que costuma dificultar a interação e comunicação entre eles. Essas barreiras precisam ser ultrapassadas, tanto para as famílias quanto para os educadores, os quais são os adultos responsáveis pelas crianças, cada um com seu papel, mas de fundamental importância para suprir suas necessidades e garantir seu bem-estar e desenvolvimento.
A importância de escutar, ver e observar as crianças
Os adultos são responsáveis pelo bem-estar das crianças, pela sua educação e pelo seu desenvolvimento, portanto, precisam suprir suas necessidades, e para isso precisam saber o que elas estão sentindo. Tanto por parte dos educadores quanto dos familiares, essa escuta precisa ser efetiva e compreender de fato o que a criança quer dizer, e não somente ouvir ou observar sem a intenção de interpretar sua linguagem.
As crianças podem estar sofrendo, sentindo medo, passando por dificuldades em casa ou na escola, entre várias outras situações, mas não têm total autonomia para resolver seus problemas e precisam da intervenção dos adultos. Isso porque muitas vezes elas não conseguem nomear seus sentimentos, o que demanda maior atenção dos familiares e educadores para identificar o que estão sentindo, por isso precisam se esforçar mais para escutar, ver e observar além daquilo que se apresenta.
A BNCC ressalta que “a entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se incorporarem a uma situação de socialização estruturada”.
Desse modo, até se adaptarem a essa nova realidade, as crianças menores podem apresentar dificuldades que comprometam seu desenvolvimento se não forem identificadas, portanto, é fundamental observar e escutar para realizar uma intervenção adequada e ajudá-las a superar.
Nas outras etapas da educação, as crianças também podem apresentar dificuldades que requerem a atenção em casa ou na escola, como estar sofrendo bullying, timidez excessiva, transtornos de aprendizagem ou emocionais, barreiras na socialização, problemas familiares, entre outros.
Ouvir as crianças também é fundamental para estimular suas habilidades de expressão e comunicação, pensamento crítico, competências socioemocionais e autonomia, ao passo que o adulto mostra que suas ideias, seus sentimentos e suas dúvidas são válidos.
💡 A competência geral “Comunicação” da BNCC ressalta a importância dos alunos de todas as etapas da educação se comunicarem:
“Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, além de produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo”.
Uma boa comunicação, por meio da qual todos têm espaço para dialogar, se expressar e interagir, faz com que os alunos sintam-se parte integrante da escola e também do seio familiar. Quando são ouvidas com atenção e afetividade, as crianças se sentem reconhecidas, valorizadas e seguras, o que permite desenvolver uma autoestima saudável que ajudará a se desenvolverem integralmente. Na Educação Infantil, em especial, por ser a base do desenvolvimento, a BNCC define entre os direitos de aprendizagem a importância de expressar as emoções, que precisam ser ouvidas e consideradas:
“Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens”.
Para que as crianças consigam se expressar, antes é preciso explorar suas emoções, para compreenderem o que sentem e então transmitir ao outros, como define outro direito de aprendizagem:
“Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.”
Como escutar, ver e observar as crianças interpretando sua linguagem?
A principal maneira de escutar, ver e observar as crianças é através da brincadeira, como bem define a BNCC:
“Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais”.
🔎 Na brincadeira, as crianças experimentam o mundo, expressam como se sentem, como veem as coisas e como se relacionam com os outros, entram em contato com situações de conflito, mostram suas opiniões e o que aprenderam, entre uma infinidade de outros aspectos.
Sendo assim, a brincadeira é muito mais do que entretenimento para a criança, e cabe aos educadores e familiares compreenderem isso para escutar, ver e observar o que elas estão expressando através dela. Mas, para isso, é preciso brincar com elas. Essa interação pode oferecer muitas informações sobre como a criança está se sentindo ou se está passando por alguma dificuldade, para então poder ajudá-la.
A linguagem e o comportamento utilizado na brincadeira, revelam como a criança é de fato, pois ela encara a vida a partir do lúdico, ou seja, é a única forma que compreende o mundo. Então proponha brincadeiras, principalmente aquelas que envolvem algum aspecto específico que precisa observar e escutar o que elas têm a dizer a respeito daquele tema. Você pode, por exemplo, propor uma brincadeira em que a criança tenha que desempenhar um papel social, para observar como ela interage com os outros e como se sente nessa interação.
Leia também: Atividades lúdicas na Educação Infantil: dicas para pais e professores
Outras atividades que podem ajudar a escutar e observar as crianças são rodas de conversa, produção de texto sobre suas experiências, jogos com cartões de perguntas e tudo o que estimule a criança a falar e agir.
Vale ressaltar que, para interpretar a linguagem da criança, é preciso entender sua etapa do desenvolvimento, colocar-se no lugar dela com empatia e aprender a ver as coisas com os olhos dela.
O campo de experiência proposto pela BNCC “Escuta, fala, pensamento e imaginação” orienta como pôr em prática essa tarefa:
“O contato com experiências nas quais as crianças possam desenvolver sua escuta e fala é importante para sua participação na cultura oral pertencente a um grupo social. Além da oralidade, é fundamental que a criança inicie seu contato com a cultura escrita a partir do que já conhece e de suas curiosidades”.
“Ao escutar histórias, participar de conversas, ter contato com livros, as crianças irão desenvolver, além de sua oralidade, a compreensão da escrita como uma forma de comunicação”.
🎥 Assista também:
Trabalhar as competências socioemocionais também é uma excelente forma de promover a escuta e a observação das crianças, pois elas envolvem as habilidades para lidar com as emoções durante os desafios cotidianos, que estão ligadas à capacidade de conhecer, conviver, trabalhar e ser.
🙈 O que ver e observar:
- Comportamentos.
- Tristeza.
- Ansiedade.
- Falta de vontade ou medo de ir à escola.
- Faltas frequentes.
- Queda de rendimento na escola.
- Isolamento ou poucas amizades.
- Irritabilidade.
- Perda de apetite e insônia.
- Conflitos nas relações.
- Forma como se comunica
- Entre outros.
🙉 O que escutar:
- Sentimentos.
- Opiniões.
- Ideias.
- Dúvidas.
- Queixas.
- Dificuldades.
- Como foi o dia.
- O que gosta.
- O que não gosta.
- Entre outros.
É muito importante estimular a criança a falar por si própria e se expressar, abrindo espaço para isso, para que ela desenvolva um pensamento crítico e a curiosidade, e conheça outras histórias, outras culturas, outros pontos de vista, sem ficar presa à sua própria visão de mundo.
Desse modo, ela aprende também a escutar os outros, adquire autonomia e deixa a posição passiva diante do mundo, constrói suas próprias ideias e ultrapassa a história contada por alguém. Assim, ela consegue obter o conhecimento por si mesma e tirar suas próprias conclusões, ampliando sua visão de mundo e não aceitando uma única versão da história como verdade absoluta.
Quando escutamos, vemos e observamos uma criança, ela entende que isso é importante e passa a fazer isso consigo mesma e com os outros.
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Imagem: Freepik