Escuta ativa de jovens
A adolescência é uma etapa do desenvolvimento conhecida pela busca de identidade e pelas descobertas. Além disso, é a transição da infância para a vida adulta, o que resulta em um período confuso para os jovens.
Portanto, a escuta ativa de jovens é essencial para oferecer suporte nessa fase conflituosa da vida, pois eles precisam ser compreendidos e acolhidos para se desenvolverem de maneira saudável com a ajuda de adultos próximos.
No post de hoje, vamos falar sobre esse assunto e como aplicar na escola, confira!
Compreendendo os jovens
Para proporcionar uma escuta ativa de jovens na escola, é importante compreender as características próprias dessa etapa da vida, muitas vezes interpretadas de modo pejorativo, o que dificulta o acolhimento.
Na Psicologia, existe a chamada “Síndrome da Adolescência Normal”, desenvolvida para ajudar os adultos a compreender, acolher e ajudar os jovens que estão passando por essa fase.
Os autores dessa teoria, os psicanalistas Arminda Aberastury e Maurício Knobel, definiram características biológicas, sociais e psicológicas que se manifestam a partir dos 12 anos, observadas universalmente nos jovens:
- Perda do corpo infantil.
- Perda dos pais da infância.
- Perda da identidade e do papel infantil, a busca pela identidade do ser adulto e de si mesmo. Quem sou? Como sou?
- Tendência e necessidade grupal.
- Necessidade de fantasiar com o futuro imaginário, sair do presente e crescer intelectualmente.
- Questionamentos das religiões e da religiosidade com tendência a adotar a religião diferente da família.
- Deslocação temporal. “Agora ou nunca”.
- Separação progressiva ou brusca dos pais.
- Atitude social reivindicatória na escola, em casa ou em qualquer meio de convívio.
- Agressividade e violência.
- Constantes flutuações de humor e do estado de ânimo, com base depressiva.
- Sono exagerado.
- Oscilação nos comportamentos e atitudes que muitas vezes são contraditórias.
- Evolução sexual desde o autoerotismo até a sexualidade genital.
Qual a importância da escuta ativa de jovens na escola?
A escuta ativa é fundamental para ajudar jovens que estejam enfrentando dificuldades próprias da adolescência, que precisam ser assistidas e orientas, pois costumam causar sofrimento e, muitas vezes, prejudicam também a vida acadêmica.
O principal ambiente social dos jovens é a escola e é nela que se manifestam muitas dessas dificuldades, portanto um olhar atento e uma escuta ativa são essenciais para ajudá-los.
As famílias muitas vezes não percebem a necessidade dos jovens de se expressarem e serem ouvidos e compreendidos, o que dificulta o acolhimento e a ajuda, que costumam ser interpretados de maneira errada pela falta de diálogo.
Os jovens precisam de referências para aprenderem seus papéis na sociedade e desenvolverem identidade própria, pois nessa fase adquirem mais autonomia e liberdade, que precisam ser adequadas.
Podemos então considerar os professores como importantes referências, responsáveis por assistir os jovens não somente no âmbito acadêmico, mas sim considerando uma formação integral.
Nesse sentido, a escola pode ouvir e perceber os jovens de uma maneira diferente, ajudando-os a compreender a si mesmo e a lidar melhor com as demandas dessa etapa da vida.
Além disso, podem alertar a família para perceber melhor o jovem e ouvi-lo com mais atenção, para que receba a ajuda adequada e enfrente suas dificuldades de modo saudável.
É fundamental escutar ativamente para realizar uma intervenção adequada e ajudar os jovens a enfrentar e a superar as adversidades comuns da adolescência, enfatizando que não estão sozinhos.
Ouvi-los também é fundamental para estimular as habilidades de expressão e comunicação, o desenvolvimento do pensamento crítico, as competências socioemocionais e sua autonomia, ao passo que o adulto mostra que suas ideias, seus sentimentos e suas dúvidas são válidos.
Algumas maneiras como a escuta ativa pode ajudar os jovens:
- Enfrentar o bullying.
- Problemas relacionais e familiares.
- Abusos sofridos.
- Questões sexuais.
- Dificuldades acadêmicas.
- Retraimento social.
- Sensação de não pertencimento.
- Contato com drogas.
- Desatenção.
- Agitação.
- Dúvidas gerais que causam sofrimento.
Outros benefícios da escuta ativa
- Promove o relacionamento interpessoal: estimula as interações e estreita os vínculos, o que estabelece um ambiente amistoso na escola.
- Minimiza os conflitos: o diálogo é a melhor maneira de solucionar conflitos. Quando o jovem tem esse espaço, pode lidar de maneira mais assertiva com problemas e dificuldades.
- Gera confiança: o interesse genuíno na fala do jovem o faz sentir-se acolhido e seguro, oferecendo a ele um espaço para sempre contar quando estiver passando por um momento difícil.
- Desenvolve a comunicação eficaz: a comunicação por meio da escuta ativa torna-se mais produtiva, pois as partes estão dispostas a agir a partir da fala.
- Otimiza o tempo: problemas podem ser resolvidos no início, o que minimiza os impactos no longo prazo.
- Promove o trabalho em equipe: quando todos são ouvidos e têm suas opiniões ou limitações consideradas, o trabalho desenvolvido na escola acolhe a todos e acaba sendo mais produtivo e inclusivo.
- Aumenta a segurança: em um ambiente onde a escuta ativa é praticada, os jovens sentem-se mais seguros, pois sabem que podem contar uns com os outros para resolver problemas e conflitos por meio do diálogo.
- Desenvolve a empatia: ser ouvido com interesse e compreendido leva a querer ouvir e compreender os outros também.
- Estimula as competências socioemocionais: visam o desenvolvimento das dimensões comportamental e relacional dos indivíduos.
Como realizar a escuta ativa de jovens na escola?
Escuta ativa é uma técnica que permite o diálogo eficiente entre quem fala e quem ouve, estabelecendo uma comunicação assertiva e produtiva, visando a compreensão e o acolhimento.
Mais do que ouvir, quem escuta de modo ativo demonstra real interesse no que o jovem está dizendo, estabelecendo um vínculo afetivo pautado na importância da fala.
Com ela, é possível estabelecer uma boa relação de confiança e acolhimento. Assim, o jovem sente-se seguro para se expressar, uma vez que sua fala é levada a sério, fazendo com que ele entenda que tem espaço e lugar de fala.
Dicas para desenvolver a escuta ativa na escola
Observar
Observe os jovens em suas interações com os colegas, seu comportamento em sala de aula, suas emoções, a maneira como reage a determinados estímulos, entre outros.
Muitos jovens têm dificuldade para se expressar verbalmente, mas se expressam de outras maneiras, por isso é importante identificar a comunicação não verbal e se ela expõe alguma dificuldade que o jovem possa estar enfrentando.
Perguntar
Se observar algo preocupante, como isolamento, agressividade, agitação ou desatenção, pergunte ao adolescente como está se sentindo, se quer conversar a respeito e se você pode ajudar de alguma maneira.
Empatia
Observar sinais de sofrimento permite se colocar no lugar do jovem, ao se preocupar com ele e querer ajudar, e a melhor maneira de fazer isso é escutá-lo e compreender o que ele sente.
Ter real interesse
Ao considerar os jovens importantes e ter o objetivo de ajudar, torna o interesse genuíno, o que facilita a escuta ativa, pois a relação entre professor-aluno está construída a partir da afetividade.
Não julgar
Uma escuta ativa eficiente não pode dar espaço a julgamentos. A ideia é acolher e compreender como o jovem se sente, não criticá-lo e fazê-lo se sentir pior. Julgar só irá afastá-lo e agravar seu estado.
Dedique-se à escuta
Quando um jovem procurá-lo ou você perceber a necessidade, escolha um momento apropriado para conversar e ouvir, escolha um local privado e evite distrações, mostre que o momento é especial para dar voz a ele.
Dar voz aos jovens
Oferecer um espaço de escuta, enfatizando que o jovem pode falar sobre qualquer assunto que precisar, mostrando-se disponível para o diálogo, seja para relatar um problema ou simplesmente para expressar sua opinião.
Interagir
Além da relação habitual entre professor-aluno para fins acadêmicos, é importante desenvolver uma relação amistosa e conversar sobre diversos assuntos, interagindo também fora da sala de aula, como em passeios, em eventos, no recreio, enfim, para que ele entenda que pode se aproximar.
Trabalhar as competências socioemocionais
Desenvolver com os jovens essas competências é fundamental para estimular a expressão e ouvi-los ativamente, pois entendem a importância dessa prática. Para tanto, devem ser trabalhadas em sala de aula as seguintes habilidades:
- Autoconsciência: proporcionar o autoconhecimento, identificando seus pontos fortes e suas limitações, buscando manter uma atitude otimista e voltada para o crescimento pessoal.
- Autogestão: capacidade de gerenciamento de emoções e comportamentos, bem como identificarem o que gostam e o que não gostam, estimulando a autonomia.
- Consciência social: o exercício da empatia, a ação de se colocar no lugar do outro e respeitar a diversidade.
- Habilidades de relacionamento: ações de ouvir o outro com empatia, expressar-se clara e objetivamente, saber cooperar com os colegas, resistir e responder de maneira adequada a conflitos.
- Tomada de decisão responsável: promove escolhas pessoais pautadas nas interações sociais que seguem normas, padrões éticos e morais desenvolvidos socialmente e, ainda, medidas de segurança gerais.
BNCC: escuta ativa de jovens na escola
A BNCC ressalta a importância dessa escuta ativa de jovens na competência geral “comunicação”, que propõe:
“Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos, além de produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.”
A base também define como finalidade do Ensino Médio o aprimoramento do educando como pessoa humana, dando espaço aos jovens para “conhecer-se e lidar melhor com seu corpo, seus sentimentos, suas emoções e suas relações interpessoais, fazendo-se respeitar e respeitando os demais”.
Além disso, ressalta a importância de “promover o diálogo, o entendimento e a solução não violenta de conflitos, possibilitando a manifestação de opiniões e pontos de vista diferentes, divergentes ou opostos”.
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