Apresentar poemas para as crianças contribui muito com o processo de alfabetização, pois essas obras possuem palavras com rimas e elementos lúdicos, o que estimula a escrita e a leitura, diversificando os gêneros de textos apresentados em sala de aula e enriquecendo a formação dos alunos.
São textos de leitura mais dinâmica, pois são compostos de versos, estrofes, figuras de linguagem e rimas, que seguem um ritmo diferente dos demais gêneros textuais.
As sílabas poéticas diferem das sílabas gramaticais, permitindo a musicalidade do texto, visto que os poemas são escritos para serem recitados – não somente lidos –, o que torna a aprendizagem mais estimulante, além de promover a oralidade e a percepção auditiva dos alunos.
As rimas permitem às crianças a descoberta dos sons e o reconhecimento das semelhanças e diferenças entre as palavras e as sílabas. Dessa forma, elas percebem ser possível que duas palavras contenham a mesma sílaba, mas que tenham significados diferentes quando acompanhadas de outras sílabas, por exemplo.
De acordo com o campo de experiência Escuta, fala, pensamento e imaginação, da BNCC para a Educação Infantil, é importante promover experiências nas quais as crianças possam falar e ouvir, potencializando sua participação na cultura oral.
Ao ouvir, ler ou declamar um poema, a criança entra em contato com as múltiplas linguagens, o que permite a elas que se constituam ativamente como sujeito singular e pertencente a um grupo social.
O contato com poemas permite à criança a construção de sua concepção de língua escrita e falada, reconhecendo seus diferentes usos sociais e os diferentes gêneros que compõem a linguagem.
“As experiências com a literatura infantil, propostas pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da ampliação do conhecimento de mundo. Além disso, o contato com histórias, contos, fábulas, poemas, cordéis, etc. propicia a familiaridade com livros, com diferentes gêneros literários, a diferenciação entre ilustrações e escrita, a aprendizagem da direção da escrita e as formas corretas de manipulação de livros” (BNCC, 2018).
Na Educação Infantil, entre os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento do campo de experiência Escuta, fala, pensamento e imaginação, da BNCC, os poemas estão presentes:
- (EI01EF02) Demonstrar interesse ao ouvir a leitura de poemas e a apresentação de músicas;
- (EI03EF02) Inventar brincadeiras cantadas, poemas e canções, criando rimas, aliterações e ritmos;
- (EI01EF08) Participar de situações de escuta de textos em diferentes gêneros textuais (poemas, fábulas, contos, receitas, quadrinhos, anúncios, etc.).
No Ensino Fundamental, o Eixo da Produção de Texto da Língua Portuguesa compreende as práticas de linguagem relacionadas à interação e à autoria (individual ou coletiva) do texto escrito, oral e multissemiótico, utilizando poemas, entre outros gêneros textuais.
O Eixo da Oralidade compreende as práticas de linguagem que ocorrem em situação oral, com ou sem contato face a face, e inclui a declamação de poemas (com ou sem efeitos sonoros).
No Campo Artístico-Literário, os poemas também devem ser desenvolvidos em sala, conforme a BNCC do Ensino Fundamental:
“Campo de atuação relativo à participação em situações de leitura, fruição e produção de textos literários e artísticos, representativos da diversidade cultural e linguística, que favoreçam experiências estéticas. Alguns gêneros deste campo: lendas, mitos, fábulas, contos, crônicas, canção, poemas, poemas visuais, cordéis, quadrinhos, tirinhas, charge/cartum, dentre outros”.
Entre as habilidades que abordam os poemas, estão:
- (EF15LP17) Apreciar poemas visuais e concretos, observando efeitos de sentido criados pelo formato do texto na página, distribuição e diagramação das letras, pelas ilustrações e por outros efeitos visuais;
- (EF12LP05) Planejar e produzir, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor, (re)contagens de histórias, poemas e outros textos versificados (letras de canção, quadrinhas, cordel), poemas visuais, tiras e histórias em quadrinhos, dentre outros gêneros do campo artístico-literário, considerando a situação comunicativa e a finalidade do texto;
- (EF12LP18) Apreciar poemas e outros textos versificados, observando rimas, sonoridades, jogos de palavras, reconhecendo seu pertencimento ao mundo imaginário e sua dimensão de encantamento, jogo e fruição;
- (EF02LP29) Observar, em poemas visuais, o formato do texto na página, as ilustrações e outros efeitos visuais;
- (EF35LP23) Apreciar poemas e outros textos versificados, observando rimas, aliterações e diferentes modos de divisão dos versos, estrofes e refrões, e seu efeito de sentido;
- (EF35LP28) Declamar poemas, com entonação, postura e interpretação adequadas, entre outros.
Benefícios de trabalhar poemas para as crianças na educação.
Utilizar poemas para auxiliar no processo de alfabetização das crianças traz diversos benefícios. Confira alguns deles a seguir.
Ajudam no desenvolvimento da linguagem
As rimas e o ritmo contidos nos poemas ajudam as crianças no desenvolvimento de habilidades linguísticas iniciais, pois aumentam a consciência fonológica dos sons que compõem as sílabas e as palavras, essencial para aprender a ler e a escrever.
Melhoram a dicção
Ler e recitar poemas ajudam as crianças a pronunciar as palavras com uma entonação melhor, de modo que elas aprendem o volume, o ritmo, a acentuação, as pausas e a intensidade correta de cada termo.
Estimulam a criatividade e a imaginação
Os poemas contêm figuras de linguagem que estimulam as crianças a interpretar seu significado, utilizando a imaginação e a criatividade, o que gera reflexões e desperta a sensibilidade.
Contato inicial com a literatura
O processo de formação leitora precisa ocorrer desde a Educação Infantil. Assim, ao introduzir poemas nas atividades escolares, as crianças entram em contato com grandes autores da literatura e despertam o gosto pela leitura desde cedo, o que favorece a criação do hábito de ler.
Estimulam a expressão
Os poemas são conhecidos por expressarem a sensibilidade do autor, de modo a evidenciar a percepção que ele tem do mundo e das suas emoções, o que estimula as crianças a compreenderem e se identificarem com o que é transmitido por essas obras.
Amplia o vocabulário
Os termos utilizados nos poemas costumam ser mais amplos do que os apresentados nos textos de outros gêneros, o que permite às crianças que conheçam palavras novas.
Poemas para as crianças – Confira nossa seleção!
O pato — Vinicius de Morais
Lá vem o pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o pato
Para ver o que é que há.
O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De jenipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela.
Bagunça — Leo Cunha
Bagunça rima com criança,
Bagunça é prima da lambança,
Bagunça dança, bailarina,
Começa e nem sempre termina,
Bagunça mansa,
Essa menina,
Descansa de pança pra cima.
Por enquanto sou pequeno — Pedro Bandeira
Por enquanto sou pequeno,
Mas vou aprender a ler:
Já sei ler palavra inteira,
Leio pra cima, e pra baixo,
E plantando bananeira!
Por enquanto sou pequeno,
Uma coisa vou dizer,
Com certeza e alegria:
Sei que nunca vou esquecer,
Da beleza da poesia!
Pontinho de Vista — Pedro Bandeira
Eu sou pequeno, me dizem,
e eu fico muito zangado.
Tenho de olhar todo mundo
com o queixo levantado.
Mas, se formiga falasse
e me visse lá do chão,
ia dizer, com certeza:
— Minha nossa, que grandão!
O girassol — Vinicius de Moraes
Sempre que o sol
Pinta de anil
Todo o céu
O girassol
Fica um gentil
Carrossel.
O girassol é o carrossel das abelhas.
Pretas e vermelhas
Ali ficam elas
Brincando, fedelhas
Nas pétalas amarelas.
— Vamos brincar de carrossel, pessoal?
— “Roda, roda, carrossel
Roda, roda, rodador
Vai rodando, dando mel
Vai rodando, dando flor.”
— Marimbondo não pode ir que é bicho mau!
— Besouro é muito pesado!
— Borboleta tem que fingir de borboleta na entrada!
— Dona Cigarra fica tocando seu realejo!
— “Roda, roda, carrossel
Gira, gira, girassol
Redondinho como o céu
Marelinho como o sol.”
E o girassol vai girando dia afora…
O girassol é o carrossel das abelhas.
Pessoas são diferentes — Ruth Rocha
São duas crianças lindas
Mas são muito diferentes!
Uma é toda desdentada,
A outra é cheia de dentes…
Uma anda descabelada,
A outra é cheia de pentes!
Uma delas usa óculos,
E a outra só usa lentes.
Uma gosta de gelados,
A outra gosta de quentes
Uma tem cabelos longos,
A outra corta eles rentes.
Não queira que sejam iguais,
Aliás, nem mesmo tentes!
São duas crianças lindas,
Mas são muito diferentes!
A bailarina — Cecília Meireles
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.
Não conhece nem mi nem fá
Mas inclina o corpo para cá e para lá
(…)
Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.
Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.
O Menino Azul — Cecília Meireles
O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.
O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
– de tudo o que aparecer.
O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.
E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.
(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
Poeminha do Contra — Mario Quintana
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Guarda-chuvas — Rosana Rios
Tenho quatro guarda-chuvas
todos os quatro com defeito;
Um emperra quando abre,
outro não fecha direito.
Um deles vira ao contrário
seu eu abro sem ter cuidado.
Outro, então, solta as varetas
e fica todo amassado.
O quarto é bem pequenino,
pra carregar por aí;
Porém, toda vez que chove,
eu descubro que esqueci…
Por isso, não falha nunca:
se começa a trovejar,
nenhum dos quatro me vale –
eu sei que vou me molhar.
Quem me dera um guarda-chuva
pequeno como uma luva
Que abrisse sem emperrar
ao ver a chuva chegar!
Tenho quatro guarda-chuvas
que não me servem de nada;
Quando chove de repente,
acabo toda encharcada.
E que fria cai a água
sobre a pele ressecada!
Ai…
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