A Filosofia no Ensino Fundamental coloca em questão os mais diversos aspectos da existência, como o conhecimento, o comportamento, os valores e a razão, com base no pensamento dos filósofos antigos, precursores desse campo de estudo. Sendo assim, num primeiro momento, deve ser ministrada em sala de aula com o método expositivo, apresentando o pensamento dos principais filósofos para formar uma base teórica sobre o tema.
Entretanto, para estimular o pensamento, o questionamento e a busca pelo saber, ela não deve se restringir ao ambiente escolar, mas também aproximar os alunos da aplicação prática da Filosofia, ou seja, como ela se relaciona com a nossa vida cotidiana.
A BNCC e a Filosofia no Ensino Fundamental
O foco da aprendizagem da Filosofia para o Ensino Fundamental são as competências gerais, articuladas às áreas de conhecimento e aos componentes curriculares. A Filosofia não é explicitamente citada, mas está inclusa nas Ciências Humanas.
As Ciências Humanas devem estimular uma formação ética, visando à formação das futuras gerações e auxiliando os alunos a desenvolverem consciência social, de modo a valorizar aspectos importantes da sociedade, como os direitos humanos, o respeito ao ambiente e a própria coletividade, além de ter a responsabilidade de promover a formação de alunos intelectualmente autônomos, com capacidade de articular categorias de pensamento histórico e geográfico, percebendo e refletindo sobre as experiências humanas com base na diversidade de pontos de vista.
As competências específicas da área das Ciências Humanas para o Ensino Fundamental são:
Compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de forma a exercitar o respeito à diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos.
Analisar os mundos social, cultural e digital, e o meio técnico-científico-informacional com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, considerando suas variações de significado no tempo e no espaço, para intervir em situações do cotidiano e se posicionar diante de problemas do mundo contemporâneo.
Identificar, comparar e explicar a intervenção do ser humano na natureza e na sociedade, exercitando a curiosidade e propondo ideias e ações que contribuam para a transformação espacial, social e cultural, de modo a participar efetivamente das dinâmicas da vida social.
Interpretar e expressar sentimentos, crenças e dúvidas com relação a si mesmo, aos outros e às diferentes culturas, com base nos instrumentos de investigação das Ciências Humanas, promovendo o acolhimento e a valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
Comparar eventos ocorridos simultaneamente no mesmo espaço e em espaços variados, e eventos ocorridos em tempos diferentes no mesmo espaço e em espaços variados.
Construir argumentos, com base nos conhecimentos das Ciências Humanas, para negociar e defender ideias e opiniões que respeitem e promovam os direitos humanos e a consciência socioambiental, exercitando a responsabilidade e o protagonismo voltados para o bem comum e a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.
Utilizar as linguagens: cartográfica, gráfica e iconográfica, e diferentes gêneros textuais e tecnologias digitais de informação e comunicação no desenvolvimento do raciocínio espaço-temporal relacionado a localização, distância, direção, duração, simultaneidade, sucessão, ritmo e conexão.
Diante de todas essas competências, trabalhar a Filosofia em sala de aula enriquece o desenvolvimento delas, uma vez que tem como premissa o estímulo ao pensamento crítico.
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Programa Filosofia para Crianças
O futuro da sociedade depende dos jovens de hoje, por isso é importante que sejam capazes de desenvolver um pensamento crítico desde a infância, para estarem preparados para atuar no mundo de modo consciente.
Pensando nisso, Matthew Lipman (1923–2010), filósofo americano, fundou o Programa Filosofia para Crianças (PFC), pois, ao ser professor da Columbia University, percebeu a dificuldade que seus alunos tinham para raciocinar. Assim, para trabalhar a Filosofia no Ensino Fundamental, desenvolveu uma estrutura teórica e metodológica, através de uma sequência de treinos de habilidades do pensamento.
Contudo, além de utilizar esse método, é preciso considerar a cultura da infância para que a Filosofia se torne parte de suas vidas e possa constituir sentidos e significados no mundo. A Filosofia em sala de aula deve proporcionar aos alunos o ato da pergunta, do questionamento, do diálogo investigativo, da reflexão autônoma, da discussão, da percepção e da construção de significados.
Essa iniciativa autônoma do raciocínio depende da motivação gerada nas crianças, uma vez que o significado é construído a partir dela, podendo ser classificada como motivação intrínseca e extrínseca.
A motivação intrínseca é o estímulo que gera o interesse no envolvimento intelectual ao realizar uma determinada atividade, de modo a se engajar no processo reflexivo de pensar sobre o que vê, ouve, diz ou faz.
A motivação extrínseca diz respeito ao resultado obtido a partir da realização de determinada tarefa, como a competição entre os alunos de quem sabe mais, por exemplo; ela é secundária à motivação intrínseca.
O papel da escola é mostrar aos alunos o valor do sentido e do significado das coisas, tendo como base o diálogo e o desenvolvimento das habilidades do pensamento. O pensamento produz elementos lógicos e éticos, fundamentais para a formação das crianças como cidadãs e protagonistas, pois a partir do raciocínio e da percepção identifica em sua condição como ser social e político, articulando o que estudam em sala de aula com o que fazem na vida cotidiana e com o que faz a sociedade como um todo.
Desse modo, o objetivo principal do Programa Filosofia para Crianças é ajudá-las e estimulá-las a pensarem por si mesmas, mediante a investigação e discussão de temas filosóficos, a partir do desenvolvimento de habilidades do pensamento.
As habilidades do pensamento, de acordo com Lipman, dividem-se em quatro grupos de habilidades cognitivas:
Habilidades de investigação: é busca por soluções para se resolver uma questão, através da observação, formulação de questões e hipóteses, busca por comprovações e autocorreção.
Habilidades de raciocínio: é a capacidade de inferir ou tirar conclusões, por meio de dedução, indução, prova, demonstração, inferência, silogismo, argumento, analogia.
Habilidades de formação de conceito: envolve explicar o significado das palavras; construir e reconstruir os elementos que compõem um conceito; observação da essência da coisa estudada, qualificando-a verdadeiramente como tal; definir, dizer com segurança o que algo é, impossibilitando a colocação de dúvidas.
Habilidades de tradução: é a capacidade de falar sobre algo com suas próprias palavras, ou seja, expressar a mesma coisa de outra forma, garantindo a sua essência, através do interpretar, parafrasear, analisar, buscar significados corretos e formar conceitos.
Segundo Lipman, pensar é fazer associações, e pensar criativamente é fazer associações novas e diferentes, além de ter um caráter ético, uma vez que a ética na Filosofia é responsável pela investigação dos princípios que envolvem o comportamento humano, refletindo a respeito da essência de normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social.
Filosofia no Ensino Fundamental no material do SAE Digital
A Filosofia, enquanto parte do componente curricular da área das Ciências Humanas, tem o objetivo de ampliar a compreensão dos alunos sobre sua realidade e a das pessoas em outros espaços e outros períodos, e desenvolve nos alunos a capacidade de pensar, o espírito crítico e o gosto pela busca do conhecimento e dos saberes elaborados por diferentes filósofos em períodos e locais diversos.
O SAE Digital considera a Filosofia essencial para a formação e o desenvolvimento dos jovens, sendo assim, disponibilizamos livros específicos de Filosofia para disseminar esse importante conhecimento. Assim como em todos os livros do SAE, o livro de Filosofia contém seções, boxes e ícones interativos para facilitar e tornar mais estimulante os estudos, com base no tema apresentado, oferecendo:
- Conversa vai… conversa vem…: propõe um momento de conversa com os colegas e professores sobre o que o aluno já sabe ou já aprendeu sobre o conteúdo.
- Conheça quem é: oferece informações sobre quem inventou, desenvolveu ou falou algo que fez a diferença em nosso mundo.
- Mão na massa: propõe atividades práticas sobre o que foi aprendido, com a premissa de que, quanto mais você praticar, mais esperto ficará em relação aos conteúdos aprendidos.
- Vale a pena conhecer: contém sugestões de leituras e filmes para ampliar as informações sobre o que você está estudando.
- De olho no local: dá sugestões de atividades sobre a realidade do seu local, assim o aluno conecta o objeto de estudo com sua realidade.
- Agora você já sabe: esta seção está no final de cada unidade e ajuda a revisar o que aprendeu.
- Glossário: apresenta explicações sobre as palavras desconhecidas de um texto.
- Para saber mais: sugestão de textos complementares para ampliar o conhecimento.
- Com a lupa na mão: oferece atividades que despertam a curiosidade, como entrevistas, pesquisas e observações.
- Aprender brincando: com base nos conceitos de cultura maker e gamificação, propõe atividades para jogar, montar e divertir-se enquanto aprende, de modo a desafiar o conhecimento.
- Realidade aumentada: oferece atividades e conteúdos digitais que podem ser acessados com o celular ou o tablet. São jogos, animações, infográficos, vídeos e exercícios interativos que ajudarão você a aprender ainda mais.
- Atividades em grupo: propõe um momento de trabalhar com os colegas, trocar informações e ideias, e produzir em grupo.
- Oralidade: momento de expor suas ideias e conversar com os colegas sobre o que você já sabe ou quer aprender.
Dessa forma, trabalhar a Filosofia em sala de aula fica mais fácil e motivador, pois instiga os alunos a querer aprender e estimula a curiosidade, o que se aproxima da metodologia de Lipman.
Além das seções que complementam a aula, o livro de Filosofia apresenta uma programação anual de conteúdos, além do planejamento e encaminhamento metodológico.
Por exemplo, o livro 1 de Filosofia do 1º ano do Ensino Fundamental apresenta a unidade “Uma roda interessante”, que propõe:
Capítulo 1 — Conversar em roda
Conversa em roda com os colegas e professores para aprender a ouvir e ser ouvido, bem como esperar o momento certo para compartilhar suas ideias.
Os objetivos do capítulo são:
- Aprender a conversar em roda.
- Perceber a importância de ouvir e ser ouvido numa conversa.
- Relacionar brincadeiras em roda de outros tempos com as brincadeiras dos dias de hoje.
- Aprender o que é a roda de Filosofia e quais são suas regras.
- Conhecer as atitudes importantes para a roda de Filosofia.
O encaminhamento metodológico para essa atividade propõe que ao iniciar o estudo da Filosofia, será abordada a ideia de roda, em diversas situações cotidianas. Depois, a roda de conversa, que propicia um momento de debate de ideias. Sempre lembre aos alunos da importância de ouvir e ser ouvido, bem como respeitar as ideias e opiniões dos colegas.
A seção “conversa vai…” propõe a reflexão sobre quantas coisas se pode fazer em roda. A partir da imagem de uma atividade específica, o professor questiona o aluno se já a realizou alguma vez e como foi.
O encaminhamento metodológico é sensibilizar o aluno sobre atividades em roda, a forma redonda, etc. Então, vale fazer perguntas, como “O que todas essas atividades têm em comum?”. E, para que observem como todos estão em roda, pergunte: “O que é uma roda?” e “Quais atividades vocês já fizeram em roda?”.
A dica para ampliar o trabalho é utilizar as seguintes referências bibliográficas:
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
Na continuação da seção, a parte “conversa vem…” propõe observar a imagem e refletir sobre o que ela tem em comum consigo, o que é possível fazer em roda e quais brincadeiras o aluno conhece que podem ser feitas nesse formato.
O encaminhamento metodológico orienta analisar a imagem e destacar a importância de prestar atenção no outro enquanto ele fala. Fale sobre a atitude das pessoas e sobre como é importante ficar em silêncio para ouvir o colega. Após analisarem as imagens desta página, peça aos alunos que assinalem as imagens que melhor representam a atenção em roda.
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Imagem: Freepik
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