Capacitismo
O capacitismo é um termo relativamente novo, mas cujas ações sempre estiveram presentes em nossa sociedade. Ele é praticado diariamente sem ser percebido e, na maioria das vezes, embora não seja entendido, afeta muitas pessoas.
É fundamental falar a respeito do assunto, para que todos saibam o que é e entendam o mal causado por essa prática. Confira o que é capacitismo e como ele pode ser combatido no ambiente escolar! Leia o post completo!
Capacitismo – O que é?
O termo capacitismo refere-se ao preconceito e à discriminação baseados na capacidade das pessoas, sendo dirigidos principalmente a pessoas com alguma deficiência.
Vivemos em uma cultura que valoriza os padrões de beleza e a funcionalidade, desse modo, pessoas com deficiência (PCD) costumam ser vistas como incapazes e inadequadas.
Uma abordagem capacitista não reconhece as pessoas pelo que elas são, mas pela sua capacidade de realizar tarefas, ou seja, quem não consegue executar determinadas ações devido a alguma deficiência, não é considerada “normal”.
Essas pessoas são vistas pelos capacitistas como inferiores e recebem um tratamento diferente, como se não fizessem parte da sociedade, sendo excluídas e desconsideradas.
Existe cerca de 14 milhões de brasileiros que apresentam algum tipo de deficiência, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que representa 6,7% da população, ou seja, é um número bastante expressivo.
Mesmo assim, o preconceito, a discriminação e a exclusão ainda existem. Por serem consideradas minoria na sociedade, essas pessoas têm seus direitos violados e não têm acesso a muitas oportunidades.
Em referência ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, foi criada uma hashtag em 2016, #ÉCapacitismoQuando, que nos faz entender melhor o que esse termo significa na prática.
Um grupo de amigos com deficiência física se mobilizou nas redes para debater o tema e conscientizar a população de atitudes cotidianas que se configuram como capacitismo, mas que costumam ser naturalizadas.
A intenção foi ganhar maior visibilidade da população em geral, de modo a não discutir o assunto somente entre a comunidade PCD, para que esse se tornasse um debate público com engajamento de todos.
Confira algumas citações com a hashtag:
- #ÉCapacitismoQuando você parabeniza amigos de pessoas com deficiência por estarem com elas, como se a amizade fosse uma concessão especial.
- #ÉCapacitismoQuando as pessoas acham que fila preferencial ou vaga de estacionamento exclusiva é privilégio e não inclusão.
- #ÉCapacitismoQuando você acha que uma pessoa pública com deficiência tem obrigatoriamente que amar e/ou superar a deficiência dela.
- #ÉCapacitismoQuando o Brasil sedia os Jogos Paralímpicos, mas passados alguns dias não há mais notícias sobre pessoas com deficiência.
- #ÉCapacitismoQuando as pessoas me acham arrogante ou orgulhoso por não aceitar ajuda; se precisar, eu peço, obrigado.
- #ÉCapacitismoQuando tu usa o termo “deficiente” isoladamente para definir uma pessoa inteira, saca? Diga PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
Em 2020, o Senado lançou, no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, uma campanha chamada “Capacitismo não tem vez”, para divulgar esse conceito e conscientizar a população da discriminação de pessoas com deficiência, em uma série de reportagens.
Conforme publicado pela campanha, o capacitismo é:
“a atitude preconceituosa contra as pessoas com deficiência por elas não se encaixarem no padrão corporal tido como perfeito ou ideal. É comum que as pessoas pensem que não têm preconceito, afinal, têm colegas de trabalho e amigos com deficiência. No entanto, existem várias situações em que, sem a intenção de discriminar, pode-se agir de forma capacitista”.
Trechos de uma das reportagens, que entrevistou a senadora Mara Gabrilli, que é tetraplégica, explicam melhor esse conceito, pois é relatado por alguém com lugar de fala sobre o assunto:
“O capacitismo erroneamente define a pessoa pela sua deficiência, mas a pessoa é muito mais do que aquele impedimento físico, sensorial, intelectual ou mental. Essa discussão é muito importante, chega em um momento bastante preocupante, em que estamos vivenciando um desmonte das políticas para a pessoa com deficiência”. (Mara Gabrilli)
Ela ainda comenta que, muitas vezes, pessoas com deficiência são rotuladas por suas possíveis limitações, o que é lamentável!
Vale lembrar que a Lei Brasileira de Inclusão reforça o direito de participação plena da pessoa com deficiência na sociedade, o combate à discriminação e a acessibilidade como um direito fundamental.
Como combater o capacitismo no ambiente escolar?
É preciso reformular o conceito de normal, desapegar dos padrões que geram preconceito e discriminação e entender que todos somos diferentes em alguns aspectos, mas que isso não deve ser um critério para a exclusão.
Com base nisso, a escola deve ser um ambiente que promova uma educação inclusiva e voltada à diversidade. É fundamental ensinar as crianças a respeitar e conviver com as diferenças, mostrando a elas que o capacitismo é uma prática inaceitável que não deve ser reproduzida.
Como proposta, a educação inclusiva faz a integração de pessoas com deficiência no processo educativo das escolas regulares, promovendo a igualdade na aprendizagem.
Desse modo, há a inclusão da Educação Especial ao ensino regular, para unificar as duas modalidades e transformar a escola em um lugar para todos, que acolha os alunos e ofereça apoio àqueles que encontram barreiras para a aprendizagem.
É possível, assim, garantir que crianças e adolescentes aprendam e se desenvolvam num mesmo contexto, convivendo em um ambiente que respeite as diferenças.
O acesso aos serviços e aos recursos pedagógicos de acessibilidade nas escolas regulares elimina a discriminação e a segregação, pois supera o modelo de escolas e classes especiais e transforma a educação e a sociedade em um lugar mais democrático.
A Política Nacional de Educação Especial, na Perspectiva da Educação Inclusiva, pretende justamente assegurar a inclusão escolar de alunos com deficiência e garantir o acesso ao ensino regular.
Promover a diversidade no ambiente escolar também contribui com o combate ao capacitismo, pois facilita a inclusão e o respeito à individualidade dos alunos com suas características particulares.
Além disso, é preciso dar voz e espaço às crianças com deficiência, acolhendo e permitindo a elas que se expressem livremente e, principalmente, que não sejam tratadas pelos educadores de forma diferente.
O Dia Internacional das Pessoas com Deficiência também deve fazer parte do calendário escolar. Ele acontece no dia 3 de dezembro, para lembrar e promover a conscientização sobre o capacitismo.
Como incentivar as crianças a não utilizar expressões capacitistas?
Uma das principais maneiras de combater o capacitismo no ambiente escolar é desnaturalizar expressões comumente utilizadas que caracterizam o preconceito e a discriminação com as pessoas com deficiência.
Para tanto, os educadores precisam apresentar essas expressões aos alunos e mostrar a eles que são ofensivas e não devem ser reproduzidas. São expressões e atitudes aparentemente inofensivas, utilizadas no dia a dia, mas consideradas preconceituosas e discriminatórias para a comunidade PCD.
Confira alguns exemplos do discurso capacitista e de expressões que não devem mais ser reproduzidas:
- “Retardado”: o uso dessa expressão tem a intenção de ofender o interlocutor por agir de forma equivocada, comparando-o com pessoas que apresentam retardo mental ou deficiência intelectual;
- “Dar uma de João sem braço”: expressão utilizada para se referir a pessoas preguiçosas, folgadas ou com desinteresse em realizar determinada tarefa, associando-as a quem possui má-formação ou ausência de algum membro;
- “Mais perdido que cego em tiroteio”: é geralmente dirigida a alguém que não sabe o que está acontecendo ou como proceder em determinada situação, comparando-a a uma pessoa com deficiência visual, que seria incapaz de realizar as mesmas atividades que aqueles que enxergam;
- “Isso está meio capenga/coxo/manco”: essa expressão costuma ser usava para designar algo quebrado, estragado ou ruim, fazendo referência à deficiência física de pessoas com dificuldade de andar;
- “Desculpa de aleijado é muleta”: tornou-se um ditado popular para se referir a pessoas que dão desculpas para não fazer algo, como se quem realmente precisa de muletas para andar não fosse aceitável;
- “Hoje estou meio autista”: é utilizada para expressar que uma pessoa está mal-humorada ou sem vontade de socializar, zombando de uma condição do espectro autista.
Estimular algumas reflexões sobre o tema também é importante para combater o capacitismo e transformar a sociedade em um lugar mais inclusivo e acolhedor, por exemplo:
- entender que piadas ofensivas nunca são engraçadas;
- perceber se as pessoas com deficiência estão sendo representadas e incluídas na sociedade, não somente tratadas como cotas;
- militar a favor da causa;
- se você não sabe como se dirigir a uma PCD, pergunte a ela para garantir que está sendo adequado em suas colocações;
- não achar que é especial fazer o mínimo — respeitar e tratar com dignidade outro ser humano;
- pensar antes de falar e se perguntar se pode ofender alguém;
- tornar-se inclusivo em todas as esferas da vida.
Combater o capacitismo é um deve de todos nós! A educação é o melhor caminho para alcançar esse objetivo!
Leia também: Educação antirracista: Como educar seus alunos
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