chatgpt

ChatGPT e BNCC foram os temas abordados no último Encontro de Coordenadores do SAE Digital. O evento gratuito on-line aconteceu no dia 29/03, com a palestra “ChatGPT na educação: como ele está alinhado à BNCC?”, um assunto superatual, voltado para coordenadores pedagógicos e educacionais que desejam se aprofundar nas possibilidades do ChatGPT.

Durante o encontro, exploramos como a ferramenta de inteligência artificial pode ser utilizada para apoiar o processo de ensino e aprendizagem, como está alinhada com a BNCC e como pode ser integrada a diferentes disciplinas e áreas do conhecimento.

Confira um resumo do evento no post de hoje.

ChatGPT na educação: como ele está alinhado à BNCC?

O facilitador do evento, Fernando Scholz, trabalha com educação há 13 anos, é professor de História e Filosofia, já trabalhou com educação especial e neuropsicopedagogia, e atualmente é coordenador pedagógico.

O Encontro de Coordenadores é sempre ministrado por especialistas convidados pelo SAE Digital, para entregar o melhor conteúdo para nosso público. Confira a seguir os conteúdos trabalhados no evento.

O ChatGPT tem chamado a atenção dos professores, gestores e coordenadores no que diz respeito a como a inteligência artificial promete revolucionar o mundo em que vivemos e principalmente a educação. Portanto, o tema é bastante relevante para o cenário educacional atual.

Tivemos dois convidados especiais para falar sobre o assunto. Primeiramente, Felipe Margall, diretor da Consultoria Educacional do Nave à Vela, uma empresa parceira do SAE Digital, que ajuda a levar inovação para as escolas.

A segunda convidada foi Flora Ariza, gerente de Avaliações do SAE Digital, mestranda em Sociologia da Educação, estudando o tema inteligência artificial na escola, pesquisadora do Centro de Inteligência Artificial da USP e bacharela em Ciências Sociais. Ela participou do evento para falar especificamente sobre o ChatGPT na educação.

Inovação na educação

Felipe falou a respeito das expectativas sobre o ChatGPT na educação e como os alunos estão reagindo a essa inteligência artificial, cabendo aos educadores repensar algumas atitudes que dizem respeito a como atuar na escola. Por isso é importante discutir sobre o tema.

Segundo ele, é preciso expandir os limites da inovação para receber o ChatGPT nas escolas. Tomando como exemplo o dispositivo criado por Steve Jobs, o IPhone: no início muitas pessoas achavam desnecessário um celular com internet e aplicativos, mas hoje todo o mundo usa. Assim, os educadores precisam estar abertos para a inovação e usá-la a favor do processo de ensino e aprendizagem.

A tecnologia veio para ficar e está revolucionando o mundo em que vivemos. Precisamos encará-la como aliada, para facilitar nossas atividades cotidianas – inclusive para otimizar o processo de ensino e aprendizagem.

Felipe explora o conceito de inovação para compreendermos o impacto do ChatGPT na educação e como alinhar essa tecnologia às diretrizes da BNCC. Segundo ele, “a inovação é a aplicação de uma nova técnica para a resolução de um problema, assim como o impacto social gerado por essa ideia”.

Ele nos convida a refletir sobre todos os recursos que utilizamos atualmente, e que um dia foram inovações, para entender quais habilidades foram necessárias para criá-los. Esses recursos foram criados em razão da necessidade de melhorar as tarefas com a ajuda da tecnologia. Da mesma forma, o ChatGPT surgiu da necessidade de otimizar alguns processos e deve ser encarado como aliado da educação, não com preconceito.

Tecnologia não é somente o digital, mas qualquer nova técnica que nos ajude a otimizar tarefas ou resolver um problema, como o clipe de papel, que nos permite juntar duas folhas com facilidade, por exemplo. Toda inovação pode trazer benefícios, com o ChatGPT não será diferente!

Para criar e utilizar uma nova tecnologia, é preciso desenvolver novas habilidades. Portanto, os educadores precisam se adaptar e aprender a aplicar as inovações na sala de aula, para orientar os alunos.

Felipe trouxe dados do Fórum Econômico Mundial de 2020 para apresentar as habilidades necessárias para inovar, para que os educadores se tornem inovadores:

  1. aprendizado ativo e estratégias de aprendizado;
  2. criatividade, originalidade e iniciativa;
  3. avaliação e análise de sistemas;
  4. inteligência emocional;
  5. design e programação tecnológica;
  6. pensamento crítico e inovação;
  7. pensamento e análise crítica;
  8. solução de problemas complexos;
  9. liderança e influência social;
  10. raciocínio, solução de problemas e ideação.

Todas essas habilidades podem ser desenvolvidas. Todos podemos nos tornar pessoas inovadoras e nos beneficiar das novas tecnologias, aperfeiçoando nosso trabalho e vida pessoal.

Trabalhar essas habilidades em sala de aula e alinhá-las à BNCC é uma das preocupações dos educadores. Pensando nisso, Felipe trouxe algumas possibilidades:

É possível desenvolver habilidades de inovação junto à BNCC, associando as 10 competências gerais a 4 habilidades inovadoras, tendo a autonomia como principal referência.

As 4 habilidades inovadoras, que podem ser conectadas à BNCC, são:

  1. Curiosidade artístico-científica: o aluno precisa despertar a curiosidade para não ser apenas um usuário da tecnologia, mas construtor de novas técnicas.
  2. Intenção criativa: tudo o que for construído tem que ter um porquê, para o aluno poder refletir e desenvolver ideias inovadoras.
  3. Pensamento complexo: o aluno precisa ter a habilidade de sistematizar o volume de informações obtidas.
  4. Construção colaborativa: é preciso estimular o trabalho em equipe para gerar novas ideias.

Essa associação entre as habilidades, sugere Felipe, pode ser feita com o auxílio da Taxonomia de Bloom, para sistematizar o trabalho dos professores e auxiliar o planejamento das aulas. Felipe frisa que não é possível ensinar novos conhecimentos com metodologias antigas.

Uma das metodologias utilizadas para trabalhar a inovação na sala de aula é propor atividades maker, ou seja, incentivar os alunos a criar, explorar e desenvolver projetos próprios.

ChatGPT e BNCC

O primeiro questionamento que surge quando falamos sobre ChatGPT na educação é a possibilidade de manter a criatividade ao utilizar uma ferramenta de inteligência artificial de linguagem para criar textos e trabalhos escolares.

Inicialmente, Flora explorou o conceito do ChatGPT, segundo a definição da própria ferramenta, que se autodefine da seguinte maneira:

“ChatGPT é um modelo de linguagem que foi projetado para ter conversas naturais com humanos. Ele foi treinado com uma grande quantidade de texto da internet e, como resultado, é capaz de gerar respostas razoáveis para uma ampla variedade de perguntas e tópicos. Ele é chamado de ChatGPT porque foi treinado usando a mesma arquitetura de linguagem que o modelo GPT (Generative Pre-training Transformer) da OpenAI, mas foi adaptado especificamente para conversas em tempo real com humanos. Ele é usado principalmente para fins de pesquisa e demonstração, mas também pode ser usado em aplicações práticas, como chatbots ou assistentes virtuais.”

Ela enfatizou o significado do GPT, visto que o chat é uma tecnologia já inserida em nossa realidade há muito tempo. Sendo assim, o GPT é transformativo, pré-treinado e generativo.

Flora nos convida a refletir sobre a característica pré-treinado, para entender que, embora o ChatGPT seja modelado pelo algoritmo matemático, existem pessoas por trás do desenvolvimento da ferramenta, profissionais da tecnologia que treinaram a inteligência artificial para dar a resposta esperada. É importante compreender isso para aceitar melhor a inovação.

Isso porque os temas de tecnologia podem assustar e intimidar os educadores. Flora esclarece, no entanto, que não devemos nos sentir intimidados pela tecnologia, pois sempre há humanos por trás e todos somos capazes de entendê-la e utilizá-la para benefício próprio e coletivo.

Sobre a característica generativo, diz que a ferramenta processa uma quantidade expressiva de dados para formar uma resposta, com base nas informações disponíveis na internet.

É essa tecnologia que torna o ChatGPT diferente, passando a impressão de estarmos dialogando com a ferramenta, uma vez que ela responde a tudo o que perguntamos, como se pensasse e tivesse inteligência própria. Entretanto, o texto não é criado por meio da criatividade, mas de dados já existentes.

Podemos entender, então, que o ChatGPT é uma solução para criar textos, por meio da inteligência artificial, uma tecnologia de propósito geral, ou seja, que se aplica para diversas finalidades.

Ao associar o ChatGPT à educação, devemos entender que ele não pode substituir as habilidades humanas, porque não é criativo, interpretativo, avaliativo, compreensivo e analítico. Sendo assim, não é capaz de entregar um texto original, mesmo tendo uma capacidade impressionante de processamento de informações, superior à mente humana nesse caso.

Dessa forma, os educadores precisam encarar a tecnologia de maneira responsável e crítica. Ela pode e deve ser utilizada para otimizar o processo de ensino e aprendizagem, mas não substituir as habilidades cognitivas humanas.

Flora também cita a Taxonomia de Bloom para relembrar as habilidades humanas que a inteligência artificial não pode substituir: criar, avaliar, analisar, aplicar, compreender e lembrar.

Para exemplificar, ela usou uma frase de Noam Chomsky:

“A mente humana não é, como o ChatGPT e seus semelhantes, uma pesada máquina estatística para encontrar padrões semelhantes (…). Pelo contrário, a mente humana é um sistema surpreendentemente eficiente e até elegante que opera com pequenas quantidades de informação; procura não inferir correlações brutas entre pontos de dados, mas criar explicações.”

Para utilizar o ChatGPT na educação alinhando-o à BNCC, Flora sugere algumas maneiras de pensar e lidar com a tecnologia.

Por fim, Flora reflete sobre o ChatGPT e a BNCC, ressaltando que as competências da base já abordam o uso da tecnologia em sala de aula – o que é válido também para a nova ferramenta –, como as competências 2 e 5:

Pensamento científico, crítico e criativo: exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

Cultura digital: compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

Na prática, o professor pode incluir a ferramenta da seguinte maneira:

Flora finaliza dizendo que não adianta negar, demonizar, deixar de lado ou para depois. Nem ser ingênuo. É preciso interagir, ser crítico, aprender a lidar com as tecnologias e se apropriar delas.

Confira na íntegra o Encontro de Coordenadores, acessando o link.

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